15.12.07

Poema mais ou menos de amor
Luís Fernando Veríssimo

Eu queria senhora, ser o seu armário
E guardar seus tesouros como um corsário.
Que coisa louca: ser seu guarda-roupa!
Alguma coisa sólida, circunspecta e pesada
Nessa sua vida tão estabanada.
Um amigo de lei (de que madeira eu não sei).
Um sentinela do seu leito – com todo respeito.
Ah, ter gavetinhas para suas argolinhas.
Ter um vão para o seu camisolão
E sentir o seu cheiro, senhora, o dia inteiro.
Meus nichos como bichos
Engoliram suas meias-calças, seus sutiãs sem alças.
E tirariam nacos dos seus casacos.
Ah, ter no colo, como gatos, os seus sapatos.
E no meu chão, como trufas, suas pantufas...
Seus echarpes, seus jeans, seus longos e afins.
Seus trastes e contrates.
Aquele vestido com asa e aquele de andar em casa.
Um turbante antigo. Um pulôver amigo.
Bonecas de pano. Um brinco cigano.
Um chapéu de aba larga. Um isqueiro sem carga.
Suéteres de lã e um estranho astracã.
Ah, vê-la se vendo no meu espelho, correndo.
Puxando, sem dores, os meus puxadores.
Mexendo com o meu interior – à procura de um pregador.
Desarrumando o meu ser
Por um prêt-à-porter...
Ser o seu segredo,
Senhora,
E o seu medo.
E sufocar,
Com agravantes,
Todos os seus amantes.

4.12.07

Assim Seja!

Deus nosso pai, vós que sois todo poder e bondade.
Dai a força àquele que passa pela provação.
Dai a luz àquele que procura à verdade.
Ponde no coração do homem a compaixão e a caridade.

DEUS,
Dai ao viajor a estrela guia,
ao aflito a consolação,
ao doente o repouso.

PAI,
Dai ao culpado o arrependimento,
ao espírito a verdade,
a criança o guia
ao órfão o pai

SENHOR,
que a vossa bondade se estenda sobre tudo que criaste.
Piedade senhor para aqueles que não vos conhecem,
A esperança para aqueles que sofrem.
Que a vossa bondade permita aos espíritos consoladores
derramarem por toda parte a paz, a esperança e a fé.

DEUS,
um raio, uma faísca do vosso amor pode abrasar a terra.
Deixai-nos beber nas fontes esta bondade fecunda e infinita
e todas as lágrimas secaram, todas as dores acalmar-se-ão.
uma só oração, um só pensamento subirá até vos,
como um grito de reconhecimento e de amor.

Como Moisés sobre a montanha
nos lhe esperamos com os braços abertos
Oh bondade !
Oh beleza !
Oh perfeição !
e queremos de alguma sorte alcançar vossa misericórdia.

DEUS,
Dai-nos a força de ajudar o progresso a fim de subirmos até vos.
Dai-nos a caridade pura.
Dai-nos a fé e a razão.
Dai-nos a simplicidade, que fará de nossas almas...
um espelho onde se refletirá a vossa santa e misericordiosa imagem.
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*Prece de Cáritas*
Psicografada na noite de 25 de dezembro de 1873 pela médium Madame W, Krill, num círculo espírita de Bordeaux, França