1.4.07

para o Sr. Orelha de Livro e associados

O chato de ser um PIMBA* é a incapacidade de relaxamento. PIMBA que se preze não relaxa um segundo sequer, passa a maior parte do tempo em um estado crítico de tensão , matutando, na espera que em algum momento do diálogo (ou monólogo, rárárá!) possa demonstrar sua capacidade intelectual, suas tiradas e trocadilhos, suas citações shakespearianas.
PIMBA que é PIMBA nunca compra roupa, arranha o violão, escreve, tem um fanzine, ignora o cinema pós Glauber Rocha, detesta o cinema norte-americano, Bush e afins, esnoba toda obra pós-tropicalista do Caetano, milita em algum partido ( de preferência o PCdoB), votou no Lula, participou das últimas eleições para o DA ou DCE de suas faculdades e acreditam, fortemente, no experimentalismo como qualidade indissolúvel do teatro, das artes plásticas, do cinema e da música.Aliás, todo PIMBA é meio artista. Ah, ia esquecendo, PIMBA tem que fumar maconha, senão não é PIMBA!!!!!!

Como minha trajetória universitária vem de longe, entre algumas desistências e descobertas, percebo que esta categoria se alastra a cada dia. Tempo bom quando se podia conversar sobre amenidades nos corredores da faculdade! Falávamos sobre o tempo, esmaltes, maquiagem, esoterismo, amores, contávamos piadas. No máximo trocávamos experiências sobre João Ubaldo Ribeiro ou Walter Salles. Agora pra você ser aceito precisa ter uma acervo de citações elaborado, entre James Joyce e Bocage, coisas que eu nunca li, nunca vi nesses meus anos de cultura inútil e leituras nada pretensiosas.

Porém, mesmo ciente de que os PIMBAs vão dominar o mundo, me realizo quando assisto a um deles sucumbindo a uma coca gelada, pirando com “Curtindo a vida adoidado ” na sessão da tarde, traçando um hamburger na lanchonete da esquina, participando de um coffe-break, usando um all star, uma camiseta hering e o tradicional desbotado jeans.

E adoro quando um PIMBA me pede um Hollywood.

*PIMBA = pseudo intelectual metido a besta e associados